- "Como é que estás?"
- "Bem como sempre, tu sabes."
Mas eu não sabia pois não? Eu não sabia que a escuridão invadia cada vez mais o teu enorme coração, eu não sabia que a luz e o riso que havia dentro de ti desaparecia a cada dia, eu não sabia que por trás de cada piada havia uma alma a ficar cada dia mais dilacerada...
Eu não sabia e isso parte-me o coração, parte-me ao meio imaginar o vazio que sentiste nos últimos tempos, destrói-me saber que a escuridão te preencheu e não te deixou ver as coisas que estavam ao teu redor, dói-me imaginar-te a achar que já nada valia a pena. Caramba, tinhas tanto por viver, havia tanto que ainda valia a pena.
Em que momento deixaste de saber que se gritasses por socorro haviam tantos que teriam parado tudo para te dar a mão e caminhar contigo o tempo que fosse preciso? Será que alguma vez te disse isso? Será que alguma vez soubeste o quão fantástico eu te achava?
Sabes o que me dói? É não duvidar por um segundo que se eu tivesse sussurrado um pedido de ajuda tu serias dos primeiros a aparecer, por mim, por todos os teus amigos, por todos os desconhecidos com que tu te cruzaste ao longo da tua curta vida e saber isto, sentido que achaste que estavas sozinho e que o mundo estava melhor sem ti, deixa-me doida.
Como, como é que achaste que não fazias falta? Como é que achaste que não precisávamos de ti para continuar? Tens alguma noção das vidas que tocaste? Tens alguma noção da quantidade de pessoas que salvaste? Nunca nos falhaste e eu sinto que te falhámos todos...
Será que ai no céu, consegues ver o quanto nos sentimos incrédulos e revoltados por não termos sido suficientes?
Sempre ouvi dizer que o reino dos céus não se abre para quem "desiste" mas hoje sei que isto não é real. Tenho a certeza que as portas se abriram para ti, tenho a certeza que não importa como se morre mas sim como se vive, e tu, tu garantiste o teu lugar. O céu recebeu um dos melhores.
Tenho pedido tanto que Deus te conforte nos seus braços, que tenhas encontrado a luz que te fugia, que chegue até ti todo o amor que tento enviar daqui de baixo.
Não me consigo conformar, desculpa, mas não consigo aceitar.
Olhar para o teu caixão... como é que tu queres que eu faça isto?
As tuas medalhas vazias, o capacete que já não seguras com o orgulho de uma vida, os sonhos que se desmancharam e não estás aqui para realizar?
Deixei-te uma flor e quase me desfiz ao ter de o fazer...
Mas não é sobre mim e sobre os que cá ficam pois não? É sobre ti, por isso quero que saibas que amanhã quando a sirene chorar por ti, quanto os teus rapazes segurarem o teu caixão, quando a terra cobrir o teu corpo, quero que saibas que em mim ficará para sempre o teu sorriso, que me lembrarei de todas as vezes que não me falhaste, que não nos falhaste, que limparei as lágrimas que teimam em cair desde quinta feira e seguirei com a certeza de que um dia te darei o maior raspanete que esse céu já ouviu, prepara esses ouvidos Luís Duarte, porque garanto que quando eu chegar ai, tu vais ouvir, ai vais!
Descansa em paz, terei sempre saudades desse abraço apertado.
Ps- Só te volto a chamar pelas alcunhas quando nos reencontrar-mos no céu. É a minha forma de protesto...
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