quinta-feira, 21 de fevereiro de 2019

Bruno de Carvalho - Sem filtro

Deixo antes de tudo um aviso, eu posso não ser a pessoa mais isenta do mundo para falar deste livro.
Porquê? Porque eu sou Sportinguista (muito) e gosto do Bruno de Carvalho. Não gostei de todas as suas atitudes enquanto presidente, não concordei sempre com ele e houve até alturas em que achei que se devia demitir - inclusive ofereci-me no meu facebook pessoal para o acompanhar a umas consultas de psiquiatria (só para entenderem que houve alturas em que eu estava mesmo muito desagradada com ele).
No entanto, gosto dele e acredito que foi o melhor presidente que tivemos nos últimos -muitos - anos e que infelizmente isto ainda será verdade daqui a uns largos anos (o que quer dizer que para mim o atual presidente se devia dedicar à medicina porque de futebol não percebe nada).
Dito isto e já tendo deixado claro que posso não ser isenta, deixo aqui a minha opinião sobre o livro (e provavelmente sairá daqui uma mistura de opinião do livro e critica futebolística) :

- Primeiro o básico, o livro está bem escrito, os acontecimentos estão relatados de forma fluída, tornando muito fácil de ler e acompanhar a "história". Não é massante e para quem gosta do tema é um livro que só se pára de ler quando chegamos ao fim.
Quanto aos acontecimentos em si, a primeira coisa que me apraz dizer é que o Sporting tem ainda mais sanguessugas do que aquelas que eu achava e que aquilo é a verdadeira república das bananas - coisa que quem acompanha o Sporting sempre desconfiou.
Bruno de Carvalho relata-nos um clube onde todos se acham no direito de mandar, de exigir e de fazerem o que querem achando que cabe ao clube obedecer-lhes e não serem eles a obedecerem ao clube. E não estamos apenas a falar de altos dirigentes mas sim de pessoas que nem sequer fazem parte dos quadros do clube mas que se acham no direito de ter benefícios à conta do mesmo.
Um exemplo? Um clube com 700 funcionários ter 5000 telemóveis associados.

Falemos de treinadores, no livro Bruno de Carvalho aborda quatro treinadores, Jorge Jesus, Marco Silva, Jesualdo Ferreira e Leonardo Jardim e se para este último é só elogios, para os primeiros dois as coisas não são bem assim, (sobre Jesualdo Ferreira não há muito a referir).
Bruno de Carvalho fala-nos sobre o suposto papel destabilizador de Jorge Jesus dentro do seu próprio balneário.
Aqui é nos dado a conhecer um homem que nunca conseguiu ultrapassar o fato do Benfica vencer sem ele e que nunca soube admitir as derrotas imputando sempre as culpas a outros. Não estive no balneário para afirmar a veracidade disto, mas pegando em vários discursos do JJ vemos que a ideia não é de todo disparatada.
Ficamos ainda a conhecer a "personalidade" de Marco Silva segundo Bruno de Carvalho. Se é verdade? Mais uma vez não sei, mas que todos os clubes por onde tem passado demonstram pensar o mesmo, lá isso tem acontecido.
Bruno de Carvalho conta-nos ainda que tanto JJ como Marco Silva foram pontos fraturantes no seu mandato, se por um lado os sócios não entenderam o despedimento de Marco Silva, por outro JJ começou a querer um papel maior do que o que lhe era devido e trouxe ao presidente alguns dissabores com outros elementos - uns do staff e outros que embora não o fossem achavam que tinham poder de decisão como por exemplo Ricciardi.
Por aqui ficamos também a saber qual é a polémica com Otávio Machado e sem entrar muito em pormenores posso apenas dizer que alguém queria que o Sporting fosse igual ao seu rival em aspetos menos limpos do futebol.

Bruno de Carvalho fala-nos também do papel dos empresários no clube e de algumas situações caricatas - ou não - que lhe aconteceram durante o mandato, assim como da contratação de alguns jogadores. E daqui tudo o que tenho a dizer é que acho lamentável que o presidente atual tenha voltado a dar espaço a empresários que tudo fizeram para prejudicar o Sporting e os seus jogadores (e que não saiba negociar os ativos do clube).

No livro ficamos ainda a conhecer as lutas pela reestruturação financeira do clube e alguns episódios que deixam bem patente a sua personalidade, ou seja, como se costuma dizer em linguagem popular Bruno de Carvalho não papa grupos e não é politicamente correto; acredito que foi este traço da sua personalidade que o colou à imagem de louco que tanta gente tem dele.
Afinal, não esperamos que um presidente deixe pessoas a falarem sozinhas, que desconverse temas ou que se recuse a dialogar sempre que os interesses do Sporting não estejam a ser respeitados, mas segundo o livro, foi este traço de personalidade que o levou a conseguir muitas vitórias. Nomeadamente um excelente acordo de reestruturação, a resolução de problemas que tinham mais de 20 anos de existência, a construção de um pavilhão quando nem modalidades a banca queria e um clube com resultados financeiros positivos.
(Há coisas na gestão do Sporting que são absolutamente ridículas aos olhos de qualquer gestor, deixar problemas arrastarem-se por 20 anos é uma delas, ceder terrenos e ainda ficar com responsabilidades ridículas sobre eles é outra).

Continuamos a leitura e damos de caras com o tema corrupção, com a luta pelo var e a verdade desportiva, com o caso dos vouchers do benfica e algumas outras coisas que nos são contadas por lá.
Que ninguém diga que o homem não tentou limpar o futebol, mas a verdade é que sozinho não se muda grande coisa.
Bruno de Carvalho comprou guerras poderosas que lhe foram criando inimigos e desgastando a imagem. Tendo em conta o que vem escrito no livro, não havia mais ninguém para comprar as guerras, não havia nenhum outro elemento que pensasse exclusivamente no Sporting - e não no futuro que poderiam estar a hipotecar ao comprarem essas guerras, estava tudo mais interessado em manter o falso status do que em lutar pela verdade desportiva.
O mais triste é que os aliados tiveram de vir de onde menos se espera, porque os que deviam ter estado com o presidente, não estiveram.

Ficamos ainda a saber alguns casos com jogadores e o inicio, meio e fim do desentendimento com o presidente do Arouca. Há vários assuntos que merecem ser lidos mas que não abordo aqui por não ter grande coisa a dizer sobre eles.
Destes capítulos digo apenas "William, eu também quero que tu te *****"

Por fim fala-se do começo do fim, as polémicas no facebook, os conspiradores da golpada, o atual presidente que já o queria ser muito antes de ter o suposto direito de aspirar a tal e Alcochete.
Alcochete foi a gota de água - repudio e quero deixar isso claro, qualquer forma de violência e ficarei mesmo muito surpreendida se um dia se provar que estou errada - mas Bruno de Carvalho era a única pessoa que tinha algo a perder com um ataque aos jogadores. A sua posição estava já fragilizada em todas as frentes, seria ele assim tão burro ao ponto de se colocar em mais uma confusão desta magnitude? Acredito que não. Muitos outros tinham a ganhar com este acontecimento, e ganharam...
Por fim fala-nos do momento de fragilidade emocional que estava a passar, das rescisões - interesseiras - dos jogadores e de algumas figuras que sempre viveram na sombra do clube usufruindo do mesmo.

Acredito que quem não gosta do Bruno de Carvalho continuará a não gostar depois de ler o livro, que continuarão a dizer que é tudo um monte de mentiras e histórias alucinadas que só contam uma versão dos acontecimentos.
Mas não é isto um livro biográfico? O contar de um lado da história? Afinal só podemos contar o que vivemos e da forma como vivemos.
Os críticos dizem também que não há contraditório do livro, já eu acho que passámos os últimos meses a ouvir o contraditório já que não se falou de mais nada a não ser de Bruno de Carvalho.

Bruno de Carvalho enfrentou inimigos em todas as frentes, nos típicos rivais, na comunicação social (que não é mais do que uma máquina bem oleada a trabalhar em prole do Benfica - basta ver a ausência de destaque dado ao caso e-toupeira, tivesse isto acontecido no Sporting e teríamos capas todos os dias durante um ano), nas federações e mais grave, dentro do próprio clube. Inimigos que não queriam perder os benefícios adquiridos ao longo dos anos, inimigos que não sabiam tudo mas se julgavam mais inteligentes do que ele, inimigos como os sócios que o deveriam ter apoiado e não o fizeram.
Bruno de Carvalho foi o presidente que nos últimos anos mais deu ao Sporting.
Pegou num clube falido e voltou a apresentar resultados financeiros positivos, construiu um pavilhão (que está pago ao contrário do que a comunicação social gosta de dizer), devolveu-nos modalidades, foi campeão em quase todas elas e devolveu a mística ao clube, voltou a encher estádios e a fazer acreditar que era possível.
Lutou contra a corrupção, exigiu a verdade desportiva e quis devolver o Sporting aos Sportinguistas  e com isto foi apelidado de louco.
Sofreu o maior ataque de sempre feito pela comunicação social, criaram-se histórias e enredos à sua volta de forma a retirar poder e credibilidade às suas palavras e aqueles que o deviam apoiar - os sócios - viraram-lhe as costas, preferindo acreditar numa campanha sórdida de manipulação do que naquilo que estava à sua frente - a obra realizada.

Eu pergunto-me até hoje se o ataque à academia teria as mesmas proporções se tivesse acontecido em outro clube, (na verdade sei que não basta olhar para outras situações do género).
Será realmente mais grave que 50 tipos entrem num balneário para assustarem homens feitos do que matar adeptos?
Reparem, volto a afirmar que condeno a invasão, mas estes tipos não entraram armados para sequestrar ninguém, a "única arma" utilizada foi um cinto e uns paus que encontraram pelo caminho. Nos vídeos existentes não existe organização nem planeamento nenhum. Nada, foram 50 acéfalos que iam dar meia dúzia de gritos aos jogadores e que acabaram por dar com um cinto num e com uns paus em outros. É punível? Claro que sim. É mais grave que matar alguém? Claro que não.
Pergunto-me então porque não veio o presidente da república ou o da assembleia repudiar o ASSASSINATO do adepto italiano? Porque nenhum deles veio nunca repudiar os cânticos constantes que fazem alusão ao adepto sportinguista morto com um very light? Nada disto é repudiável? A misera possibilidade de um clube comprar árbitros não deveria ser motivo de que se exigisse transparência no futebol? Não. Silêncio é tudo o que conseguimos dos órgãos políticos quando o assunto é o benfica, já quando é o Sporting... todos gostam de cravar os pregos do caixão.
Enfim, o único presidente que se revoltava com isto, que exigia equidade no tratamento, que se recusou a deixar o clube ser espezinhado e maltratado pela comunicação social e pelos rivais, foi apelidado de louco e caiu.

O único presidente que teve a coragem de lutar contra os poderes sujos do mundo do futebol, foi corrido, calado e desmoralizado com a ajuda dos Sportinguistas.
Bruno de Carvalho errou em vários momentos, faltou-lhe maturidade emocional para lidar com os ataques mas torna-se tudo mais difícil quando eles partem daqueles que nos deviam sustentar e apoiar, de quem devia caminhar ao nosso lado e não esfaquear-nos pelas costas.

Como já disse acredito que quem não gosta do Bruno de Carvalho continuará a não gostar, a verdade é que - na minha opinião - as pessoas não querem admitir que erraram, não querem admitir que mandaram para a rua o melhor presidente dos últimos anos. Afinal, como é que iriam justificar o seu amor ao clube se admitissem tal coisa? É mais fácil acreditar na manipulação da comunicação social, é mais fácil acreditar que Bruno de Carvalho destruiu emocionalmente um plantel (ficaram tão destruídos que nos dias a seguir treinavam cheios de sorrisos com o atual presidente), é mais fácil acreditar que o clube foi financeiramente destruído por Bruno de Carvalho - mesmo tendo apresentado resultados financeiros positivos, coisa que há muito não acontecia no clube.
Meus queridos, se Bruno de Carvalho faliu o clube, como é que a comissão de gestão conseguiu aumentar ordenados, dar prémios de assinatura, pagar 200 mil para oferecer uma casa a um jogador, despedir um treinador e contratar outro e posteriormente pagar uma indemnização milionária ao primeiro?
Não estávamos à beira da falência quando Bruno de Carvalho saiu. Relembro que estava a ser negociada uma nova reestruturação da divida, estava a ser negociado o empréstimo obrigacionista, estávamos a negociar a compra da maioria da Sad. Não estávamos na falência..Hoje em dia, não sei!

Recomendo o livro a todos os que queiram saber mais sobre os bastidores da presidência, é obviamente a sua versão dos acontecimentos, sobre o ponto de vista dele e tendo em conta o que ele viveu.
Bruno de Carvalho termina o livro dizendo que o jogo ainda não acabou e ainda estamos no intervalo, não sei o que quis ele dizer com isto, mas cá estarei para ver.


"Há momentos em que um líder também precisa de algum apoio e compreensão daqueles que estão ao seu lado."

2 comentários:

  1. Confesso que não consigo simpatizar com o Bruno de Carvalho, por isso, não será um livro a figurar nas minhas leituras.

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  2. Olá obrigada pelo comentário já sigo o blog
    Não leio livro relacionados com futebol
    Rêtro Vintage Maggie | Facebook | Instagram

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