quinta-feira, 14 de março de 2019

Frédéric Martel - No armário do Vaticano

O tema deste livro é interessante, "a hipocrisia da igreja que publicamente condena os homossexuais mas que no seu interior é dominada por eles" mas confesso que esperava muito mais do livro.
São muitos nomes e muitas personagens - acho que o autor quis tanto mostrar-se credível e mostrar que o que diz tem bases e não são só boatos que damos connosco perdidos entre pessoas que não fazemos ideias de quem são e que nos vão aparecendo aos montes de cada vez. E para complicar ainda mais a leitura, às vezes começamos a página a ler sobre uma pessoa e enquanto o autor espera que ele chegue mete-nos outras 5 pessoas em outras 5 situações a falar sobre a primeira pessoa; é confuso e exige muita atenção na leitura.

Dito isto vamos aos factos do livro, eu terminei este livro a sentir-me uma pessoa muito ingénua, nunca mas nunca me passaria pela cabeça que a taxa de homossexuais fosse tão grande na Igreja e não por serem homossexuais porque isso a mim não me causa nenhuma estranheza, mas por serem "homossexuais praticantes", a quantidade de padres, bispos, cardeais e por ai fora (que o livro lista-nos uma infinidade de categorias que eu também desconhecia) que tem uma vida dupla é assustadora e não estamos a falar de uma relação monogâmica baseada no amor, estamos a falar de toda uma vida de luxuria e loucura.
Há aqui toda uma dualidade de critérios, de personalidades e de pessoas que dizem uma coisa ao mundo e que praticam outra que é assustadora.

E a base do livro é isto, são mais de 600 páginas a falar-nos que o prelado tal é maioritariamente gay, que o bispo tal tem não sei quantos amantes, que o cardeal tal contrata prostitutos e assim vai.
De vez em quando é abordada a pedofilia ou é realmente desenvolvida a história de alguém que se revelou um monstro; na minha opinião, estes são os momentos realmente interessantes do livro  as alturas em que conseguimos compreender como o carácter daquela pessoa realmente influenciou a vida de tantas outras, como destruiu tantas pessoas, como chegou ao poder sem que ninguém o parasse.

Achei o livro muito redutor, como se o autor quisesse explicar todas as acções das pessoas à luz da sua homossexualidade. Por exemplo: o autor supõe que o papa Bento XVI é gay não praticante (é uma das poucas suposições do livro, já que o resto é baseado em provas) e para ele tudo o que papa fez, disse e inclusive a sua queda só é analisada com base nisto, no facto de ser gay, no facto de estar rodeado de gays, no facto de não conseguir acabar com a homossexualidade na igreja.
Ora, o pontificado de Bento XVI tem inúmeras outras facetas que não foram de todo abordadas, este papa tentou trazer transparência ao banco do Vaticano e acabar com a corrupção em vários sectores da cúria, mas nada disto é abordado no livro, só a questão gay. Aliás há sempre um tom muito agressivo com Bento XVI, um tom moderado com João Paulo II e um tom amigável com Francisco. Sendo que João Paulo II foi dos papas que mais apoiou uma série de situações sujas no Vaticano não me parece de todo justo que se reduza Bento XVI à sua pretensa homossexualidade e à sua incapacidade para lidar com ela.

Resumindo: o livro tem umas partes muito interessantes - quando o carácter da pessoa é desenvolvido e nos são dadas a conhecer personagens que são absolutamente monstruosas e foram infinitamente protegidas - e tem um tema interessante que é a homossexualidade na igreja. Mas fala-nos basicamente de padres que nunca incomodaram ninguém por serem gays e isso para mim não faz nenhum sentido. Seria um grande livro se nos falasse das estatísticas da quantidade de padres homossexuais, se nos explicasse (como explicou) o motivo de haver tantos e se depois só pegasse naqueles que de alguma forma influenciaram a historia; os que criaram guerras publicas contra a homossexualidade e os que são verdadeiros monstros mas foram protegidos e isto caberia em 400 páginas (ou menos).
Dito isto quem gostar de explorar os corredores do Vaticano vai gostar de algumas partes deste livro, para quem não gostar não vale de todo a pena.


Fotografia da minha autoria.

"Cada coisa é recebida em função do que realmente queremos ouvir!"

"Somos todos pecadores, mas não somos todos corrompidos."

"Pode alguém dissimular durante muito tempo a sua verdadeira natureza?"

"Falar dos outros é correr o risco de que falem de nós."

5 comentários:

  1. Fiquei curiosa!
    https://araparigadoautocarro.blogs.sapo.pt/

    ResponderEliminar
  2. Parece interessante. E calculo que vou achar que vivi na inocência muito tempo por desconhecer a realidade. Beijinho

    ResponderEliminar
  3. Olá,
    Vim retribuir a visita e conhecer seu espaço.
    Um abraço

    ResponderEliminar
  4. Tal e qual :D

    Parece-me ser fabuloso! Gosto de livros com temas que envolvem a atualidade e que, acima de tudo, nos fazem pensar!

    NEW TIPS POST | FATHER’S DAY GIFT GUIDE – FOR LESS 20€.
    InstagramFacebook Official PageMiguel Gouveia / Blog Pieces Of Me :D

    ResponderEliminar